As ViagensBelfast, Irlanda do Norte, a Terra da Calçada dos Gigantes

Belfast, Irlanda do Norte, a Terra da Calçada dos Gigantes

Pegamos um voo direto de East Midlands para Belfast, através da companhia aérea Flybe, e o avião era tão pequeno que a hélice parecia um “ventilador”, o que foi motivo para dar muita risada durante o voo.

A hélice do avião parecia um ventilador…

Escolhemos o mês de abril de 2018 para conhecer Belfast, devido ao início da primavera, que deveria proporcionar um pouco mais de sol. Na realidade, na Irlanda do Norte, assim como na Inglaterra e no Reino Unido como um todo, tem duas estações climáticas por ano, “inverno” ou “inverno mais ou menos”, porque são raros os dias quentes nestas terras.

Ilha verde, Ilha dos Sonhos. A Irlanda do Norte é belíssima e encanta a todos que a visitam.

Escolhemos visitar a Irlanda do Norte, para fechar o ciclo dos quatro países do U.K. (United Kingdom) ou do Reino Unido da Grã Bretanha e da Irlanda do Norte (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte).

Outro motivo que nos fez escolher Belfast foi a história da Revolução do I.R.A. – Irish Republican Army – ou Exército Republicano Irlandês, ocorrida por lá nos anos 1970, entre civis e paramilitares irlandeses (católicos) e ingleses (protestantes), cada grupo com as diversas siglas que os representavam (um tanto complicado para entender, mas com disputas envolvendo causas políticas, território, religião e liberdade). Durante o período entre 1969 e 1997, Belfast tornou-se mundialmente famosa negativamente devido ao elevado número de ataques a bombas e armas. Pelos jornais da época do Brasil se via homens encapuzados, prédios destruídos e muita gente machucada. Para quem acompanhava à distância, a impressão que se tinha era de que a disputa era entre as partes sul e norte da Irlanda, mas, na realidade, isso nunca existiu. Apesar de, no início do século XX (1916) a parte sul da Irlanda ter conseguido sua independência do Reino Unido (hoje, inclusive, a moeda que circula na República da Irlanda – sul – é o euro), e a Irlanda do Norte continuar pertencendo ao Reino Unido (a moeda circulante é o pound) os irlandeses do norte continuam tendo muito mais afinidade com os irmãos irlandeses do sul do que com os britânicos. Por anos, Belfast foi deixada de lado, sem turistas, justamente pelo perigo que oferecia aos visitantes. Porém, com investimento de empresários irlandeses e a parceria de alguns do Reino Unido, o pólo negativo se inverteu, Em 2012, a cidade foi remodelada e Belfast se tornou turística e muito segura. Novas atrações surgiram e foi isto que viemos a descobrir. Na realidade, estávamos curiosos para descobrir onde foram filmadas as cenas do último episódio (7º), da série da H.B.O., Game of Thrones.

A distância do aeroporto até a área central é pequena, o motorista do táxi fez o trajeto rapidamente e cobrou 10 pounds. Deixamos as malas no Hotel ETAP Belfast, da Rede Accor, bandeira Ibis Budget, conhecido pela simplicidade, mas que possui condições ótimas para viajantes como a gente e começamos o passeio de 5 dias e 4 noites.

De início fizemos uma pequena caminhada para conhecer o Hotel Europa, lugar que foi bombardeado 36 vezes na época da Revolução dos anos 1970. Neste hotel também se hospedaram várias celebridades, e o mais famoso foi Bill Clinton.

Hotel Europa, 36 vezes bombardeado pelos conflitos e hoje local de alpinismo urbano.

Ao parar para tirar foto do Hotel Europa, vimos que várias pessoas estavam olhando para a fachada do prédio e foi aí que verificamos que havia uma prática de esporte radical, o tal “alpinismo urbano”, exercitado nas fachadas de prédios ou torres altas (no Brasil é muito comum o alpinismo industrial para limpeza de fábricas e de fachadas de prédios). Bem em frente ao Hotel Europa está localizado o pub mais famoso de Belfast, e também da Irlanda do Norte, denominado Crown Licour Saloon, e o lugar é datado de 1826. Este pub é considerado uma “joia rara” uma verdadeira obra-prima de arquitetura no segmento de bares, sendo um dos lugares mais visitados em Belfast.

O Crown Liquor Saloon é pub diferenciado, considerado uma joia rara.

O Crown Liquor Saloon surgiu na era industrial de Belfast e tem vidros pintados por todos os lados que você olha, em tons de âmbar e carmim, com desenhos como conchas, fadas, abacaxis, flor-de-lis e palhaços, dentre outros. Aliás, as janelas coloridas e decorativas do bar foram originalmente destinadas a proteger os clientes de “bisbilhoteiros” que passavam pela rua. Outro detalhe é que, internamente, tem algumas mesas que são fechadas com portas de “vai e vem”, com a finalidade de gerar certa privacidade. Em cada canto do pub há mini esculturas de madeira em formato de aves de rapina (espécies de arquétipos). Bem ao lado do Crown Licour Saloon tem outro pub histórico chamado Robinsons, onde nos finais de semana tem música ao vivo (estilo rock irlandês) e é interessante visitá-lo pela antiguidade, pelo ambiente e pelo público, pois é um pub tradicional, daqueles que vendem cervejas típicas irlandesas e de muita qualidade. Vale muito à pena a visita a estes dois pubs.

A cerveja do Irlanda do Norte é a melhor da U.K., sem sombra de dúvidas.

Bem ao lado dos pubs, encontramos uma agência receptiva interessante chamada Irish Tours, especializada em vender os passeios para o interior da Irlanda do Norte, com fácil acesso e funcionários amáveis e, ainda, opção de atendimento em espanhol (funciona como agência de passeios e informações turísticas ao mesmo tempo), fato este bem “avançado” para os modelos turísticos do restante da Europa.
Vende os passeios mais conhecidos e procurados (The Giants Causeway, Carrickfergus Castle, Carrick a rede Rope Bridge, Dunluce Castle e outros). Foi lá que compramos o tíquete para o passeio ao “The Giants Causeway” e demais atrativos, por 35 pounds cada. Também, super interessante frisar, é que a cédula de pounds é diferente da que circula na Inglaterra, até chegamos a estranhar, mas depois lembramos que na Escócia, também circula outro tipo de moeda diferenciada, porém, com o mesmo valor monetário. E as cédulas de pounds, apesar de diferentes, são aceitas em todo o Reino Unido.

Neste dia, andamos sem rumo pela cidade e descobrimos várias fachadas de prédios e casas com grafites urbanos (desenhos urbanos nas fachadas e nos muros) muito interessantes.

O charme da cidade é a sua história contada em desenhos.

Deu para entender que os grafites fazem parte da história de Belfast. Muitos consideram estes desenhos como “arte urbana”, diferente de grafite. Usam a mesma técnica (spray), mas tem o objetivo de contar uma história ou contextualizar um fato ocorrido no lugar.

A animação infantil presente nos desenhos dos muros e casarios.

Enfim, caminhar por Belfast foi muito enriquecedor, pois deu para perceber a forma com que os artistas locais se manifestam. Acabamos por almoçar em um lugar especial, o Kelly’s Cellars.

O pub Kelly’s Cellars é descolado e serve um caldo que aquece até a alma, sem contar que a Guinness tem o melhor sabor do mundo.

O Kelly’s Cellars é o pub irlandês tradicional mais antigo de Belfast, frequentemente descrito como “uma joia escondida que exala velhos valores tradicionais”. É famoso por servir a melhor cerveja da Guinness em Belfast, que se bebe para acompanhar o ensopado de carne irlandês caseiro. E foi justamente o que provamos naquele dia, um sabor dos “deuses”. Tem a Guinness preta tradicional e a Harp, branca, que é da mesma cervejaria. O pub é datado de 1720 e fica bem no centro da cidade. Interessante que você parece estar a 200 anos atrás, com paredes caídas e o piso totalmente irregular, de acordo com um tradicional pub irlandês. A decoração é muito interessante, nada combina com nada, desde os móveis até os utensílios usados como decoração nas paredes, mas, ao mesmo tempo, tudo tinha uma linha de raciocínio que fazia sentido. Segundo a história, foi no porão deste pub que tramaram uma rebelião em 1798 contra o domínio inglês e dizem que este clima político permanece até os dias de hoje. Ficamos sabendo, também, que alguns atores da série Game of Thrones foram vistos no pub, um tanto disfarçados, com exceção do Peter Dinklage (Tyron Lannister), pelo seu tamanho. Até Emília Clarke (Daenerys Targaryen) e Kit Harrington (Jon Snow), passaram lá para tomar uma Guinness.

Uma parte do elenco de Game of Thrones foi tomar uma Guinness no Pub Kelly’s Cellars.

Nunca fomos de repetir bares ou pubs em viagens, mas não tínhamos como não retornar a um lugar tão “absurdamente legal” e voltamos à noite para assistir a uma banda de rock irlandês.

Um dos lugares mais fotografados da cidade é o relógio Albert Clock, mais conhecido como o “Big Ben de Belfast”. O monumento foi construído em 1865, em estilo gótico, em homenagem à Rainha Vitória da Inglaterra.

O relógio Albert Clock, mais conhecido como o “Big Ben de Belfast”.

Um fato curioso foi que, em 1912, era o prédio mais alto da cidade e alguns “sortudos” viram o lançamento do transatlântico Titanic no mar (o navio foi construído em Belfast). O Big Ben de Belfast é muito bonito, mas não tem a imponência e nem a fama do relógio londrino. Outro fato, que não é dos mais agradáveis, é que o Albert Clock fica localizado em uma rua movimentada da cidade, o que dificulta a aproximação, mas, mesmo assim, dá para tirar umas boas fotos. Tem um túnel que dá acesso ao local.

Andando pelas ruas, sem muito roteiro definido, é que se encontra as melhores “pérolas” da cidade. Belfast é uma cidade pequena e relativamente fácil de andar. Basta um mapa na mão e a ajuda de um aplicativo do celular para se chegar a lugares ótimos em pouco espaço de tempo. Já era final de tarde e encontramos um pub chamado The Hercules Bar. Entramos por curiosidade, mas foi um dos lugares mais divertidos da cidade.

Um pub chamado The Hercules, grandioso na diversão.

Entramos sem querer e vimos uma das melhores apresentações do dia, uma espécie de show de músicas dos anos 1970 e 1980. O cantor era típico irlandês e tinha na sua frente um vídeo de karaokê (tipo daqueles antigos, que rola as letras). Seu repertório agradava a todos, tipo “perfeito” para quem tem seus 50 ou 60 anos.

Simples por fora, mas divertido por dentro.

Com um clima romântico, muitos casais dançavam e outros, como se diz na nossa terra, no “estilo bang bang”, buscavam novos pares. O clima de “pisca-pisca” estava no ar com os frequentadores locais, muito festeiros, por sinal. Adoramos a noite, apesar de ser primavera, estava um friozinho de 12 graus com chuva.

O Museu do Titanic não conta a história do filme e sim a tragédia do maior transatlântico do mundo.

Amanheceu frio, um dia muito nublado, e lá fomos nós visitar o Museu do Titanic. Caminhamos até o Centro de Informações Turísticas, que fica localizado em frente ao City Hall (prédio da Prefeitura) e compramos um ticket de ônibus com direito a descontos em vários atrativos na cidade. Pagamos 11 pounds (valor total do ticket para 2 pessoas e livre para andar por 2 dias e quantas vezes quiséssemos). Pegamos o ônibus bem em frente e fomos direto para o atrativo. O dito museu fica localizado no prédio mais lindo da cidade.

O prédio do Titanic simula o transatlântico na época, em tamanho e imponência.

O prédio foi inaugurado em 2012, localizado no antigo estaleiro de Belfast, o Harland & Wolff, o mesmo lugar onde foi construído e lançado ao mar em 1912. O prédio é simplesmente magnífico em termos de arquitetura, tem o mesmo modelo e a mesma altura do transatlântico. São e 12.000 metros de área construída, com galerias contando a história trágica do maior transatlântico do mundo para a época. Chegamos de ônibus e ficamos impressionados com o motorista, que nos deixou bem em uma esquina (não era parada de ônibus) para facilitar a nossa vida (que hospitalidade!). Por muito tempo, devido ao filme Titanic com Leonardo DiCaprio, achava que o navio era americano e acredito que boa parte do mundo pensa assim, como eu. Quanta ignorância! O ticket de ingresso custou 15 pounds por pessoa, com desconto (temos carteirinha inglesa de estudante!!! kkkkk), mas o valor real é de 18 pounds. Nos preparamos para ficarmos o dia inteiro dentro do museu. São 8 andares de pura diversão intelectual. Para aqueles que adoram história, como nós, o Titanic foi um “prato cheio”. O transatlântico foi construído em Belfast porque, na época, a cidade tinha o estaleiro mais moderno da Europa, sem contar, também, que Belfast era uma capital muito próspera em pleno período da era industrial. Belfast fabricava cordas para navios, tinha a maior fábrica de secagem de chás da Europa (as folhas vinham da Índia), industrializava o tabaco (fumo), era excelente na indústria têxtil e nos destilados de whisky. Enfim, também tinha o maior e mais moderno estaleiro da Europa, nada mais normal do que fabricar o maior e fenomenal transatlântico do mundo. Segundo a história, para construir o Titanic foi feita a maior reforma no estaleiro chamado de Harland e Wolff. Foi uma verdadeira odisséia o trabalho de construção do transatlântico, tendo sido usados diversos materiais como aços, madeira maciça, maquinário e mão de obra especializada, era praticamente impossível, para os padrões da época, esse navio ter afundado, tanto é que ao ser lançado ao mar, tinha a célebre frase dita na imprensa: “Nem Deus afunda o Titanic”. Em 1912, foi lançado ao mar, na presença de grande parte da população de Belfast, em meio a aplausos e foguetes (a construção do navio foi de 1909-1911). A cada galeria que a gente vai avançando, tem painéis interativos contando a história do transatlântico.

O Museu é interativo e você tem a oportunidade de ver as diversas fases de construção do navio através de bondes suspensos.

Na segunda parte, você é convidado a entrar em um “bonde suspenso”, estilo parque de diversões, com trava de segurança (estilo Disney), onde são contadas as fases de construção do casco do transatlântico. A todo o momento, vem à mente o filme “Titanic” e a cena do desastre com o iceberg em pleno oceano no Atlântico Norte, próximo ao Canadá. Mas somente nos últimos andares do museu, quase no final do passeio, é que realmente se sente o naufrágio do Titanic com o som de fundo das mensagens SOS do código Morse sendo enviadas para outros navios. Imagens do naufrágio são combinadas com áudios de sobreviventes contando suas histórias e ilustrações das reportagens confusas da imprensa sobre o desastre na época. O iceberg é representado por uma parede de 400 coletes salva-vidas (réplica), sobre os quais se projeta uma imagem do navio “afundando”. Muito emocionante! Curioso é que isto aconteceu em abril de 1912, mas parece que foi ontem, devido ao enorme sucesso do filme. São diversos temas que se acompanha na visitação aos 8 andares, onde se destacam os seguintes: A Ideia do Titanic (conhecimento geral de como foi a sua construção), A Viagem Inaugural, O Naufrágio, As Consequências, Mitos e Lendas e O Titanic nas Profundezas.

O SOS Nomadic levou até o alto-mar os passageiros que iriam embarcar no transatlântico Titanic.

Saímos dali com o coração em pedaços, lembrando do filme, e fomos visitar o SOS Nomadic. Para lembrar que este navio menor era uma espécie de auxiliar do Titanic, pois ele levava as pessoas que iriam embarcar no transatlântico até o alto-mar, uma vez que, pelo tamanho do Titanic, o mesmo não poderia navegar em águas consideradas baixas. Sendo assim, muitos passageiros eram transportados ao alto-mar, até chegar ao Titanic. O SOS Nomadic participou de duas guerras mundiais como navio de apoio aos militares do Reino Unido. Também, no auge da sua fama, transportou passageiros famosos como Elizabeth Taylor, Richard Burton e Charlie Chaplin.

Embora sua ligação com o Titanic o tivesse transformado em uma embarcação histórica, o navio SOS teve a sua vida útil (comercial) finalizada em 1999. Houve muitos gastos para transportar o navio até Belfast e fazer uma restauração de acordo com a sua aparência de 1911. Salienta-se que este navio foi utilizado por muitos anos como restaurante e discoteca (ficou muito tempo atracado na cidade de Paris). O restauro do navio foi muito bem feito e é possível visitá-lo bem próximo ao Museu do Titanic. O SOS Nomadic está praticamente vazio por dentro, mas há peças, móveis e até mesmo vídeos para lembrar como era o navio na época. Vale a visita aos três pisos do navio, mas nada de empolgante, impactante ou muito instrutivo, talvez porque a tendência seja a de comparar com o Titanic e não há parâmetro frente à imponência do transatlântico.

Antes do final da tarde voltamos a circular por diversos lugares do centro e estivemos no Victoria Square Shopping Centre, complexo comercial e de lazer, de belíssima arquitetura, todo envidraçado por fora. A área inclui as principais grifes internacionais e locais, o cinema Odeon e diversos restaurantes. Aproveitamos e jantamos por lá mesmo, no Cosmo Belfast, excelente buffet de frutos do mar, que oferece um verdadeiro festival de camarões, ao preço de 14,99 pounds por pessoa.

No dia seguinte, escolhemos para fazer o Tour Político (optamos por fazer por conta própria, mas tem táxis especializados na cidade que fazem esse passeio chamado Black Taxi Tours). Só para salientar que, nos anos 1970, a cidade de Belfast foi palco de uma guerra civil entre (1969-1997), onde de um lado tinha os nacionalistas (irlandeses e católicos) e de outro os unionistas (britânicos e protestantes). Foi uma série de ataques violentos, onde grupos de paramilitares, de ambos os lados, se fizeram presentes atacando alvos civis com explosivos. Para complicar ainda mais, houve a falta de sensibilidade da primeira ministra britânica da época, Margaret Thatcher, que culminou com 10 mártires que morreram em greve de fome. Para nós, que éramos dois adolescentes na década de 1970, e sabíamos da existência do I.R.A., naquela época não existia a figura do “terrorismo” e sim dos “mascarados” da Irlanda do Norte, que eram grupos causadores de muitas mortes. Enfim, seria esclarecedor tirar tantas dúvidas. Pegamos um ônibus perto do City Hall (linha 10) e lá fomos em direção à famosa Shankill Road (área protestante). Descemos perto de uma quadra um tanto sinistra (indicação do motorista do ônibus), entramos pelo lado errado e acabamos na tal de rua.

Shankill Road contando a história dos conflitos da Irlanda do Norte.

Trata-se de um quarteirão inteiro (Shankill Road) com murais mesclados de arte em grafite que contam a história dos conflitos da Irlanda do Norte. Atualmente é apenas uma rua, mas, durante os conflitos, o lugar era sinônimo de sectarismo, da intolerância racial e religiosa. Caminha-se em torno de meia hora nesta rua, passando por alguns desenhos tenebrosos como mãos ensanguentadas (as mesmas eram jogadas pelos inimigos de um lado para o outro), mascarados com fuzis e até painéis com fotos de crianças, soldados da Segunda Guerra, frases de impacto e assim por diante. A todo o instante, param os táxis com turistas para conhecer a rua e ouvir as histórias, mas não ficam por muito tempo, talvez com receio de que possa acontecer alguma coisa no lugar dos tumultos passados. É muito interessante ver este lugar de perto, para tentar entender como aconteceram os conflitos entre os unionistas/protestantes (que queriam que a Irlanda do Norte permanecesse no lado do Reino Unido) e os nacionalistas/católicos (que desejavam a independência da Irlanda do Norte em relação ao Reino Unido e, ao mesmo tempo, a reunificação com a República da Irlanda, pois as duas Irlandas são ligadas territorialmente, formam única ilha). Triste história que teve um fim com o acordo de 1998 (Acordo da Sexta-Feira Santa). Até hoje a cidade de Belfast é separada por muros. Somente o centro da capital é neutro. Nosso primeiro susto foi enxergar um dos portões que separam a cidade. Perguntamos a um morador da divisa, o qual disse que abrem às 6h da manhã e fecham às 20h. E falou, ainda, que se moviam eletronicamente. O tal muro era de ferro, com arame farpado em cima, com aparência sinistra, parecendo um campo de concentração. Não vimos como o mesmo se movimentava, ficou para a próxima. Somente dá para acreditar quando se enxerga, pois não pensávamos que ainda existisse (parece uma mistura de ficção com a realidade). Em volta da Rua Crumlin Road, também vimos as primeiras casas com as bandeiras irlandesas (sinal de moradores católicos) e ao passar o tal portão vimos algumas casas com bandeira do Reino Unido (sinal de que eram protestantes). O susto foi maior quando vimos que em uma das casas estava hasteada a bandeira do I.R.A. (parecia uma sede de partido político). Seguindo na nossa caminhada demos a volta no quarteirão e entramos na Rua Crumlin Road, uma rua bem movimentada e, como estava quente, acabamos por entrar em um pub típico irlandês chamado Murphy’s Irish Pub, onde encontramos alguns irlandeses (acreditamos serem católicos), porque falaram mal dos ingleses para a gente. Um dos frequentadores do bar nos disse bem baixinho, ao pé do ouvido: “Nós, irlandeses, somos pessoas boas, porque recebemos bem os estrangeiros, mas os ingleses, não. Se o estrangeiro não sabe falar nossa língua, nós tentamos falar a dele, tentamos a comunicação, mas os ingleses não”. Achamos engraçado na hora que ele comentou, mas ficou claro para nós que os conflitos somente foram “abafados”, mas ainda há certa animosidade entre os povos. Pedimos uma cerveja, chamada Smithwick’s, típica ALE irlandesa, e adoramos. Ah, não posso deixar de falar da limpeza do banheiro do pub, sensacional, isto que somente tinha um único sanitário que atendia todo o estabelecimento comercial. E deu para perceber que os homens, em sua maioria, eram os frequentadores daquele local, mas, como éramos um casal, não houve qualquer problema!

A Irish beer ALE Smithwick’s é um néctar dos deuses.

Seguindo a pé, fomos dar em uma das maiores atrações turísticas da cidade, a Falls Road (área católica), onde se encontram vários murais históricos de revolucionários que foram mártires na Revolução de 1970. Há várias igrejas católicas neste local, mas as protestantes foram demolidas ou deram outro uso para a população. Os murais dessa área estão muito bem conservados e transmitem mensagens positivas de paz ao mundo, diferentes de alguns que se encontram espalhados pela cidade, que retratam a iconografia paramilitar e a simbologia de um ou de outro grupo.

São inúmeros murais, mas o mais procurado para fotografia é o Mural de Bobby Sands, um dos mártires mais conhecidos na Irlanda do Norte. Bobby Sands foi um homem do I.R.A. que liderou a greve de fome na prisão de Long Kesh nos anos 1980. O jovem de 27 anos morreu em maio de 1981, após 66 dias em greve de fome. Durante seu tempo na prisão, Sands foi eleito deputado por Fermanagh e South Tyrone. Nunca ocupou este cargo e, até hoje, se elege um deputado no lugar de Bobby, que também não assume, deixando a vaga livre, para lembrar o fato histórico. Por um erro estratégico do governo britânico (Primeira Ministra Margareth Thatcher), este fato deixou uma marca política negativa entre irlandeses e ingleses (até hoje), uma vez que outros 9 mártires morreram com Bobby Sands.

Bobby Sands é considerado um mártir e um herói em Belfast.

O desenho de Bobby é bem representativo e alegre. Mas a maioria dos murais é triste, demonstrando claramente o terror que ocorreu em todo o país por um longo tempo.

Bem próximo ao Mural Bobby Sands fomos conhecer o Irish Republican History Museum (fica localizado na Conway Street e foi inaugurado em 2017). Trata-se de um pequeno museu (instalado nos fundos de uma fábrica) com peças e coletânea de uma das prisioneiras republicanas que ficou na prisão de Armagh Gaol de 1973-1977, de nome Eileen Hickey.

A coleção era pequena e foi tomando uma grande dimensão. Este espaço foi gentilmente cedido por uma fábrica da cidade e alguns museólogos organizaram a exposição. Na realidade, o museu extrapola a luta racial, religiosa e civil que durou quase 30 anos, tem documentos que relatam a luta dos republicano-irlandeses em diversos períodos de 1798 até 1803.

A exposição é uma boa indicação para pessoas interessadas na história da Irlanda do Norte, detalha bem o movimento republicano e sua guerra contra as forças do governo britânico. No local, encontra-se uma coleção de metralhadoras, uniformes e outras armas usadas nos confrontos dos anos 1970. Ficamos na dúvida se eram cópias, pois eram muito semelhantes às originais. Ainda tem um espaço para livros (bibliotecas) e apresentação de vídeos dos fatos que ocorreram na época. Na primeira parte tem uma breve exposição dos artesanatos feitos pelas prisioneiras. O museu realmente é interessante, mas precisa urgente de reformas. Apesar de o espaço ser pequeno e sem ventilação, vale a visita, sem contar que a entrada é grátis.

Saímos na corrida e pegamos um ônibus até o centro. De lá pegamos outro ônibus (11b) até o Crumlin Road Gaol, o presídio desativado que virou atração turística. A prisão foi aberta em 1846 e durou 150 anos. Durante estes anos a Crumlin Road Gaol abrigou assassinos, ladrões, prisioneiros políticos e até crianças. Foi um lugar que testemunhou nascimentos, execução de pena de morte e greves de fome de prisioneiros, sendo que houve apenas uma fuga.

Crumlin Road Gaol, o presídio desativado que virou atração turística.

O tour é guiado, mostra todas as fases por que passavam os prisioneiros, desde a sala de entrada, os banhos, as diversas celas, onde se vê personagens em forma de bonecos de cera representando o cotidiano dentro da cela. Observa-se o mobiliário e o modo de vida que os prisioneiros tinham na época, ao passar pelos corredores da prisão. Em uma parte do tour se anda por um túnel da prisão que ligava a mesma ao tribunal do outro lado da rua do Crumlin. Entra-se na cela de um prisioneiro que vai ser executado e mostra a sua última ceia e a cena do enforcamento. Vai-se ao escritório do Diretor e ao pátio, onde muitos deles foram enterrados (de acordo com a lei na época os homens executados deveriam ser enterrados sem identificação e, dos 17 executados, 15 ainda permanecem por lá). O lugar é interessante, mas não é nada agradável visitá-lo.

A noite estava chegando e resolvemos jantar no McHughs Bar, um dos pubs mais famosos da cidade. O prédio é antigo, mais ou menos de 1710 e faz parte da história da cidade. O velho McHughs Bar foi testemunha da ascensão, do declínio e do recente renascimento de Belfast, desde a revolução industrial nas docas, passando pelas guerras mundiais até a atual fase de revitalização da cidade. O pub foi comprado por um novo proprietário em 2013, tendo sido muito bem restaurado por arquitetos locais com fotos históricas da construção do Titanic. Apesar de o pub ser novo, a sensação é a de que estamos em um pub muito antigo, pelo mobiliário e pela decoração, que vai até o teto. Muito bem frequentado pela elite da cidade, o restaurante fica no segundo andar, com estilo “chique casual”, mesas bem colocadas e delicadas garçonetes. A comida é estilo “fashion” (Jamie Oliver, o Chef de Cozinha mais conhecido na Europa) e provamos a excelente Irish beer ALE Roundstone.

O mural do McHughs Bar retrata as antigas docas e as diversas fases de Belfast.

O terceiro dia de estada em Belfast foi muito alegre, acordamos com a trilha do Game of Thrones na cabeça (tarataratara!!), pois chegou o dia de fazer a excursão para ver algumas paisagens que serviram de cena para a série de TV (H.B.O.) mais famosa do mundo na atualidade. A série de televisão norte-americana “Game of Thrones”, baseada nos livros de George R. R. Martin, “As Crônicas de Gelo e Fogo”, é muito popular em vários países, inclusive no Brasil. Enquanto a história escrita trouxe o misterioso mundo fictício e os personagens intensos, na dramaturgia a série adicionou emoção e encantamento com sua superprodução e paisagens incríveis, que cativaram audiências. Algumas cenas famosas foram realizadas nas belas paisagens da Irlanda do Norte e alguns episódios foram gravados nos Estúdios do Titanic em Belfast.

Pagamos 35 libras para ver, além de pontos de filmagem da série da H.B.O., alguns dos pontos turísticos mais famosos da Irlanda do Norte, o Giant’s Causeway (a Calçada dos Gigantes), a Carrick – Rede Rope Bridge (ponte pênsil que liga uma ilha a outra) e outros atrativos (Carnlough Harbour, Cushendun Caves, Larrybane, Dunluce Castle e Antrim Coast Road).

Pegamos o ônibus às 9h da manhã e lá fomos nós em direção à estrada, pois as atrações estavam localizadas a 1 hora e meia de Belfast. A nossa guia era jovem, não mais do que 25 anos, mas com uma personalidade bem forte. Já no início, começou a falar sobre a série famosa G.O.T. e suas cenas mais legais filmadas na Irlanda do Norte e as fofocas mais quentes também. Com exceção da gente, algumas poucas pessoas estavam ligadas nos fatos da série G.O.T. A excursão foi guiada o dia todo. O passeio integrava história, religião, mitologia, política e misticismo, envolvendo a série. A primeira parada foi no Carnlough Harbour. Um pequeno porto construído no século XIX, durante os anos de fome, e que ainda mantém o charme do Novo Mundo.

O Carnlough Harbour, um pequeno e charmoso porto.

Antigamente, as pessoas nadavam neste porto e hoje somente tem poucos barcos. A parada foi breve e fomos até um ponto alto para tirar umas fotos, onde tinha uma bandeira da Irlanda do Norte. No local vimos uma pequena homenagem aos mártires da Revolução Irlandesa.

Andando mais um pouco de ônibus, por pequenas estradas no meio do verde da Irlanda do Norte, vendo as fazendas com suas ovelhas, e as paisagens bem pitorescas, se encontra um dos cenários incríveis do G.O.T., as Cavernas Cushendun de Antrim, que se formaram ao longo de um período de 400 milhões de anos.

Placas indicativas do local da cena do G.O.T.

Conforme cenas do G.O.T., foi neste local que a Melisandre (uma espécie de feiticeira) deu origem ao assassino das sombras (Cena em destaque: Temporada 2, Episódio 4). Ela ainda queimou os antigos deuses em Dragonstone, também conhecida como Downhill Strand. Da estrada até as cavernas a caminhada é curta, mas a visitação somente é viável em dias de sol, pois tem muita pedra e barro. Dentro da caverna, se observa uma pequena entrada para o mar. O lugar é muito bonito e tem uma pequena placa indicando que cena do G.O.T. foi realizada naquele local. Mas o lugar “the best” ou o mais lindo estava por vir, a famosa Giant’s Causeway (Calçada dos Gigantes), considerada a 8ª Maravilha do Mundo.

Eis a famosa Giant’s Causeway (Calçada dos Gigantes).

Mergulhada em história, magia, fadas e folclore, o lugar é um dos mais famosos do Reino Unido. Nosso ônibus nos deixou bem próximo à entrada do pavilhão de acesso a essa atração turística. Não esperávamos uma estrutura turística tão boa, com estacionamento, lanchonete grande, banheiros e lojas de souvenirs. Ao chegar na entrada do pavilhão, se recebe o sistema de áudio (tinha em português) para acompanhar a visitação ao parque onde se encontra o atrativo.

Pelas fotos não se tem a dimensão exata do gigantismo do lugar.

A Calçada dos Gigantes é um promontório de colunas de basalto de aproximadamente 6 km, bem em frente ao mar. Existe no local em torno de 40.000 desses pilares de pedra, cada um tipicamente com cinco a sete lados irregulares, sobressaindo das faces do penhasco como se fossem degraus rastejando no mar.

Para se ver a calçada, tem que caminhar uns 15 minutos a pé, lomba abaixo, ou se pega um ônibus. O ideal é descer a pé para ir tirando as fotos e voltar de ônibus, até porque a volta é em subida, e foi o que fizemos. O lugar é muito lindo e impressionante!

A Calçada dos Gigantes está dentro de um Parque de Reserva Natural.

É protegida como parque natural, não só pela sua beleza, mas também porque as suas falésias, pastagens e praias, e os pântanos, são o lar de cerca de 50 espécies de aves, bem como de mais de 200 espécies de plantas. Estima-se em torno de 350 mil visitantes por ano, uma quantia considerável para os padrões irlandeses. Ficamos em torno de 2 horas tirando fotos e apreciando o lugar. Os turistas circulam pelas pedras, olhando com muita curiosidade, e alguns mais corajosos até adentram ao mar para subir nas pedras mais altas. Tudo isto é controlado por guardas locais que monitoram os mais “afoitos” por fotos diferentes. Ao voltar ao Centro de Informações Turísticas, assistimos a um pequeno vídeo (desenho) que conta a parte folclórica da Calçada dos Gigantes.

Conta a lenda irlandesa que um gigante chamado Finn MacCool queria enfrentar numa luta um gigante escocês chamado Benandonner, mas havia um problema: não existia uma embarcação grande o suficiente para atravessar o mar e levar um ao encontro do outro. A lenda diz que MacCool decidiu construir uma calçada que ligava os dois lados, usando enormes colunas de pedra, resolvendo assim o problema do duelo. Benandonner aceitou o desafio e viajou pela calçada ate à Irlanda do Norte. Benandonner era bem mais forte e maior do que MacCool, mas, percebendo isso, a esposa de Finn MacCool, de maneira muito inteligente, decidiu vestir seu marido gigante como um bebê. Quando Benandonner chegou à casa dos dois e viu o bebê, pensou: “Se o bebê é grande assim, imagina o pai!”, e fugiu correndo de volta para a Escócia. Para ter certeza de que não seria perseguido por Finn MacCool, destruiu a estrada enquanto corria, restando apenas as pedras que agora formam a Calçada do Gigante. Amei a lenda e o vídeo (desenho animado) é espetacular, assim, saímos com uma impressão muito boa deste lugar.

Ainda com as imagens da Calçada dos Gigantes na memória, fomos em direção ao Castelo de Dunluce. Não chegamos a entrar no Castelo, somente tiramos fotos da estrada, mas é impressionante a beleza do lugar.

O Castelo de Dunluce, fonte de inspiração para o livro “As Crônicas de Nárnia”.

Conta a história que o Castelo de Dunluce ficou em ruínas devidos às inúmeras guerras entre as famílias. Mesmo de longe, o lugar tem aspecto sombrio, mas ao mesmo tempo belo, pois é de frente para o mar, o que deixa as fotos mais bonitas. Foi neste lugar que o autor C. S. Lewis se inspirou para escrever o livro “As Crônicas de Nárnia”.

Deste ponto, entramos no ônibus e fomos em direção ao atrativo mais emocionante, a ponte de corda Carrick-a-Rede Rope Bridge. Trata-se também de um parque onde se encontra a ponte de corda mais famosa do Reino Unido, que liga uma pequena ilha chamada Carrick-a-Rede com a costa da Irlanda do Norte. Segundo a nossa guia, até recentemente, a ilha era usada por pescadores para pescar salmão e as redes ainda podem ser vistas pelos visitantes. Vai se andando pelo caminho costeiro até a ponte de corda. No caminho se vê as falésias e as rochas em frente ao mar. No caminho para a ponte (fomos ao início da primavera) se observa o verde dos gramados e a geologia única do lugar.

A ponte é segura, e se forma uma pequena fila antes de entrar na mesma, tanto na ida como na volta. Em cada extremidade da ponte há um guarda de segurança. Só para se ter uma ideia, a ponte tem uma dimensão de 20 metros (66 pés) e está a 30 metros (98 pés) acima do nível do mar. A travessia foi tranquila, apesar do vento. Quando se atravessa, tem que ter mirar a parte final da ponte e não olhar para baixo. Foi muito legal a aventura e, em ambos os lados, tanto antes como depois da travessia, tem bancos de madeira para apreciar a paisagem.

Carrick-a-Rede Rope Bridge, é possível atravessar por cima do mar…

Seguindo em frente fomos a Larrybane, uma das cenas mais famosas de G.O.T. na temporada 2, episódios 3 e 4 (Stormlands). Neste lugar foi uma das cenas onde Brienne of Tarth derrotou Sir Loras e Littlefinger procura Catelyn Stark. Até mesmo Euron, Theon e Yara aparecem algumas vezes nas cenas.

Não basta ser fã, tem que simular a cena também.

Foi engraçado porque a guia distribuiu roupas similares aos personagens e lá ficamos nós (no meio da pedreira) simulando uma guerra de espadas para tirar fotos (turista é “bicho bobo”).

Larrybane e a vista para o mar, tendo ao fundo as ilhas escocesas.

Larrybane é um promontório que se estende para Sheep Island com vista para o mar, tendo ao fundo as ilhas escocesas (um sonho). Até 1950, uma parte do local era uma grande pedreira (extração de pedras), mas hoje serve somente de atração turística. As grandes cavernas abaixo já serviram como casa para construtores de barcos e um lugar de repouso seguro contra tempestades de inverno. Ficamos pouco tempo, a visita não durou mais do que 30 minutos.

Para quem tiver tempo sobrando uma boa opção de passeio é atravessar de ferry boat de Belfast (Irlanda do Norte) para Cairnryan, que fica situada ao norte da Escócia, ou seja, dois países do Reino Unido separados pelo mar (Canal do Norte, que se mistura ao Oceano Atlântico). A travessia dura pouco mais de duas horas e, nos meses mais quentes do ano, tem até cinco horários por dia.

Nossa última parada, antes de pegarmos a estrada para Belfast, foi para ver o The Dark Hedges (Cena de destaque: Temporada 2, episódio 1 do G.O.T.).

The Dark Hedges, um dos lugares mais fotografados da Irlanda do Norte.

Literalmente este lugar fica no meio de uma estrada, próximo a uma fazenda. Trata se do lugar mais fotografado na Irlanda do Norte. Ao longo dos últimos 300 anos as árvores se aproximaram uma das outras (entrelaçamento) criando um túnel natural em forma de arco, onde entra pouca luz natural. Conta a história que a família Stuart plantou no século XVIII para impressionar seus visitantes. O lugar é um tanto sinistro, porém, contrastando com o belo, e serve para tirar fotos, já que não tem absolutamente nada ao redor. Do outro lado da estrada tem uma mansão georgiana, Gracehill House, que agora é um clube de golfe.

Ao final do dia fomos jantar uma refeição chinesa perto do hotel, porque não se teve tempo de comer o dia todo, fora um lanche rápido. Portanto, se forem fazer este passeio, levem um sanduíche.

Amanheceu muito frio, um ar gelado, e resolvemos fazer o City Sightseeing Belfast (ônibus turístico urbano). O mesmo custou 10 pounds por pessoa, podendo ser utilizado por 2 dias. Fizemos um tour de uma hora e meia pela cidade, andamos por diversos lugares como Titanic Museum, Parliament Building, Donegall Street, Queens University, May Street e outros, totalizando 23 paradas. Somente um ônibus tinha áudio em espanhol, e o restante somente em inglês (com a presença física de um guia que falava um inglês “corrido”). Uma chuva insistente pegou a gente o tempo todo do tour.

Após o tour fomos até a St Anne’s Cathedral (igreja anglicana) e não pudemos visitá-la porque uma empresa estava fazendo os preparativos para um evento no dia, um casamento. O pastor anglicano nos deixou entrar na catedral e vimos de perto o casório, de muito luxo. Andamos mais um pouco e fomos à igreja católica de Saint Patrick (santo padroeiro das Irlandas, partes Sul e Norte). A igreja é antiga, datada de 1877, em estilo vitoriano. Vimos a imagem de Saint Patrick ao fundo da igreja e pedimos muita proteção. Bem interessante o local, tem vários pontos de oração. Na fachada principal tem uma enorme rosácea que permite a entrada de luz natural. Linda a igreja, vale a visita, ainda mais para pedir a proteção ao padroeiro da Irlanda.

“Cathedral Quarter”, o lado boêmio da cidade.

Ainda circulando pela cidade, fomos tirar umas fotos perto da “Cathedral Quarter” (Quarteirão das Catedrais), onde tem várias atrações diurnas e noturnas. Fomos passear nas margens do Rio Farset e passamos pela Bridge Street, bem bonita a orla, revitalizada e com astral muito legal. Seguimos adiante no “Cathedral Quarter” onde se encontra uma boa parte da boemia da cidade. Tem vários pubs ótimos que valem uma visita. Acabamos comendo frango no The Dirty Onion (A Cebola Suja), que é uma rede de fast food especializada em frangos com um toque moderno. Apesar do nome do pub, a refeição estava bem gostosa. Na parte de baixo funciona um bar estiloso e na parte de cima um cardápio com frangos ao estilo brasileiro com várias guarnições, além de o preço ser super em conta, então, deixamos a dica. Vale lembrar que este restaurante está localizado em um edifício de 1680 (um dos mais antigos da cidade e tem uma estrutura de madeira intacta). Antigamente era um grande armazém e comercializava uísque, chá e outros artigos de luxo para a época.

Queríamos ouvir uma autêntica música irlandesa e achávamos que haveria shows normais nos pubs, com programação paga, mas acabamos descobrindo que os grupos musicais se apresentam de forma espontânea (cada um leva o seu instrumento e o grupo é formado na hora). Acabamos no The Duke of York Belfast (localizado dentro do Quarteirão das Catedrais). O interior é decorado com belos espelhos antigos e artefatos de épocas passadas, parece mágico. Realmente o pub impressiona pela decoração, as típicas cervejas ALES irlandesas eram de excelente qualidade e estava completamente lotado. Ficamos enlouquecidos pela apresentação espontânea do grupo que tocou música típica irlandesa na parte de baixo do estabelecimento. Na parte de cima, para os amantes de rock, havia um show de uma banda genuinamente irlandesa dentro deste estilo. A propósito, depois de termos percorrido vários pubs pela cidade, notamos que, em Belfast, predomina o rock e não a música irlandesa.

Uma banda casual, tocando música típica irlandesa no The Duke of York Belfast.

Acordamos e fomos visitar a Queen’s University, localizada bem próxima ao nosso hotel. A mesma foi projetada para ser uma alternativa ao Trinity College Dublin, que era controlada pela Igreja Anglicana. O prédio é imponente e muito semelhante aos colleges de Oxford e Cambridge. A universidade oferece vários cursos de graduação e pós (Mestrado e Doutorado). Os alunos que estudam por lá são denominados de “alunos da Rainha”. Bem ao lado, fomos visitar o Royal Belfast Botanical Gardens, jardim botânico inaugurado em 1828 e que foi aberto ao público em 1895.

 

Royal Belfast Botanical Gardens, jardim botânico inaugurado em 1828.

Visitamos somente uma parte, devido ao pouco tempo, mas “encheu os olhos”, literalmente. Além de um jardim excepcional visitamos a estufa Tropical Ravine House, construída em 1889, em estilo vitoriano, e que apresenta um design arrojado para a época. A atração mais popular é uma flor chamada Dombeya, que floresce somente no mês de fevereiro.

A poucos passos dali fomos visitar o Museu Ulster (Museu Nacional da Irlanda, para ver a tapeçaria do Game of Thrones Tapestry. Logo na entrada foi engraçado, vimos três dragões gigantes estilizados pendurados no saguão do prédio. Lembrou-nos os “filhos dragões” da Daenerys Targaryen.

Museu Ulster, tapeçaria com a história de Game of Thrones e os dragões estilizados.

O museu é moderno, estiloso e tem vários andares de exposições, incluindo uma parte egípcia, que é muito interessante. Mas, no último andar, acabamos por encontrar a famosa tapeçaria que foi feita por artesãos irlandeses e levou 16 semanas para ser concluída, desde o desenho, coloração, tecelagem e a exposição no museu. O tapete mede 80 metros e abrange toda uma ala do museu, contando a história do G.O.T., simplesmente impressionante, para quem é fã da série. Para ler a história, tipo quadrinhos, tem que ficar caminhando ao redor de toda a área do mural onde está colocado o tapete.

Folder ilustrativo sobre a tapeçaria, fornecido pelo Museu, contando a saga de Game of Thrones.

Como último atrativo, visitamos o Northern Ireland War Memorial Museum, bem pertinho da Catedral de Belfast. É um pequeno museu que apresenta uma exposição de armas, fotos, bonecos de cera e vídeos para todos aqueles que têm interesse histórico sobre o papel desempenhado pela Irlanda do Norte na Segunda Guerra Mundial. Como a maioria dos museus de Belfast, a entrada é free.

Northern Ireland War Memorial Museum, a Irlanda do Norte como partícipe da Segunda Guerra Mundial.

Tivemos um pequeno incidente no aeroporto (culpa nossa), pois na viagem de ida levamos um perfume em mãos do Duty Free de Notthingham. O pessoal do controle do raio X não deixou passar o líquido, que ultrapassava 100 ml (mesmo com nota fiscal e embalado corretamente). Por uma obra do acaso, conseguimos despachar a mala com o perfume, 15 minutos antes do voo, e embarcar à última hora com a ajuda dos funcionários do aeroporto.

E por último fica a célebre pergunta: “Vocês voltariam para Belfast?” E nós responderíamos, mil vezes, sim… O motivo principal é que se trata de um dos locais mais fantásticos que conhecemos, pela magia do lugar e pela hospitalidade do povo. Foi uma grata surpresa.

Dicas de Belfast

– A história da Irlanda do Norte é bem complicada, por isso é interessante fazer o City Sightseeing Belfast pelo menos umas duas vezes. Não tivemos muito tempo para curtir os Muros da Paz, espalhados pela cidade. Dizem que em 2023 serão demolidos, tanto esses como os que retratam as tragédias passadas, situação essa pouco provável, haja vista que os muros, em geral, são o charme e o ponto alto da cidade, apesar da tristeza que causa ao saber da história.

O charme da cidade são os murais, por isso indicamos o passeio no City Sightseeing Belfast.

– A cidade não tem metrô, portanto, adquira os passes de ônibus no Centro de Informações Turísticas em frente ao City Hall. Também vendem souvenir e, até mesmo, roupas tricotadas com lã de ovelha irlandesa.

– Venda de souvenirs de boa qualidade você encontra na Carrolls Irish Gifts, que fica na Castle Place – BT1 1GB.

– Para aqueles que querem fazer um tour free pelas ruas da cidade (pontos principais), duas vezes ao dia (11h e 14h30m) sai um tour guiado na frente do City Hall (bem no centro). Os guias estão identificados com um guarda chuva amarelo (adorei a ideia). No final do tour, cada um dá uma colaboração, conforme as suas posses.

– Não visitamos o City Hall, prédio histórico que abriga a Câmara Municipal da cidade. Foi reduto da Rainha Victoria e, hoje, é um ponto de visita durante o ano inteiro. Fica para próxima.

Dicas gastronômicas

– McHughs Bar e Restaurante fica na Queens Square – BT1 3FG – lugar de ótima comida e boas cervejas.

– Não deixe de comer o ensopado irlandês com a legítima cerveja Guinness no Pub Kelly’s Cellars – na Bank Street, Belfast – BT1 1HL.

– Se você gosta de frutos do mar não deixe de ir ao buffet do Cosmo Belfast, um verdadeiro festival, incluindo grande diversidade de camarões de boa qualidade e bom preço – no 1 Victoria Square, Belfast BT1 4QG, dentro do Victoria Square Shopping Centre.
– Experimente a cerveja Guinness (a preta tradicional), o gosto é diferente das demais que se toma pelo mundo inteiro. Inigualável! Ah, tem outras cervejas ótimas, como a Harp (também da cervejaria Guinness, mas branca), a Hop House 13, a Smithwick’s, e as ALES irlandesas de forma geral.

Dicas de sites

– Para comprar tickets dos passeios do Game of Thrones – www.irishtourtickets.com

– Para saber do Irish Republican History Museum – http://eileenhickeymuseum.com/

– Para saber sobre o Northern Ireland War Memorial Museum – http://www.niwarmemorial.org/

– Para saber mais sobre a Prisão de Crumlin Road Gaol – www.crumlinroadgaol.com

– Para saber sobre o Titanic Museum e o S.O.S Nomandic – www.titanicbelfast.com ou www.nomandicbelfast.com

– Para saber sobre a Ponte Pênsil Carrick a Rede Rope Bridge – www.ntsurvey.org.uk

– Para saber sobre o tour free pela cidade – www.belfastfreewalkingtour.com

– Para saber sobre o país Irlanda do Norte – www.discovernorthernireland.com

– Para saber mais sobre a Calçada dos Gigantes – www.nationaltrust.org.uk

– Para saber sobre o Sightseeing Tour (passeio de ônibus turístico Hip Hop pela cidade) – www.belfastcitysightseeing.com

– Para saber mais sobre como se locomover de ônibus pela cidade – www.translink.co.uk

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