Para que eu pudesse obter a vaga como voluntária na “Charity Shop”, a administração da loja ligou para a minha Professora na escola onde estudo e a mesma enviou uma carta de recomendação (o conteúdo da carta era emocionante). Em uma sexta-feira de outubro de 2017, pontualmente (2h30min), lá estava eu maquiada e de salto alto, afinal, eu pensava que iria arrumar as roupas no cabide e quem sabe tivesse a sorte de montar um “look” em um manequim ou até mesmo bater aquele papo com um cliente (doce ilusão).
Chegando lá, meu chefe chamado Shadi (não era inglês) me apresentou a todas as pessoas na loja, o que achei muito simpático da parte dele (conheci a Super Chefe, muito bonita por sinal). São três andares de loja, sendo que no térreo fica a loja cujo perfil é o de vender roupas para estudantes. Achei o máximo e na hora pensei: “Nossa, que incrível!” Mas não foi bem assim. Após receber as instruções de como deveria proceder em caso de incêndio (o Shadi teve que fazer mímicas, porque estava tão nervosa que só entendia a palavra “fire”), hehehe. Ele passou a explicar como funciona o esquema de donativos. No 2º e 3º andares eram sacos e mais sacos de donativos, algo surpreendente.
Tinha uma pessoa que abria um por um e separava por homens, mulheres, acessórios e “lixo”. Tem gente que doa roupas rasgadas e muito sujas (ou seja, doam aquilo que deveria ir para o lixo literalmente). Mas 90% das roupas recicladas estavam em excelente estado, praticamente novas e algumas até etiquetadas das lojas de origem.
No térreo onde eu tive de trabalhar ele mostrou a minha função (passar as roupas que estavam no cabide). O ferro era vertical e saía um vapor (já existe no Brasil e é utilizado para tirar o amassado das roupas dos cabides). O cheiro que vinha das roupas era algo que entrou nas minhas narinas de tal forma que uma hora depois me senti mal.
Além do que, para minha surpresa, apareceu um colega de trabalho chamado “Gayre George” que ficou quase 3 horas falando comigo no inglês nativo. Meu cérebro deu um “nó”, pois vaporizar as roupas, cuidar dos amassados e ainda falar inglês ao mesmo tempo era algo muito louco para a minha cabeça. Mas aos poucos fui perdendo o medo e falando sem parar. Não sei se falei certo ou errado, mas Gayre não riu, pelo contrário, corrigia a minha pronúncia. E lá passamos a tarde inteira. Na hora do “breack” subi no 3º andar e tomei um chá com bolacha no meio dos calçados e roupas e fiquei pensando: “Mas como o ser humano produz lixo…” Vi a real dimensão do que é o consumo exacerbado, um dos maiores males da sociedade atual.
Na última parte do meu trabalho saí da máquina de vaporização e fui etiquetar roupas. Furei os meus dedos, pois até para isto tem que ter “experiência”. Bem no final da tarde, Shadi me disse: “Seu trabalho está concluído, agora irás assinar o contrato”. E aí assinei o contrato com a AEGIS – Preventing Crimes Against Humanity. Explicou para mim as cláusulas em inglês e eu assinei toda orgulhosa.
Saímos da loja juntamente com a “Chefe das Chefes” (não gravei o nome), a mesma conversou comigo e eu não consegui responder, tamanho era o cansaço mental que estava. Foi um dia inesquecível, pois o primeiro dia em um trabalho voluntário após a aposentadoria teve a mesma emoção do primeiro dia de trabalho no início da carreira. A vida é “muito louca” e eu mais ainda, mas o que seria da gente se não tivermos a capacidade de nos “reinventar” diariamente…