As ViagensNápoles: Comer, Rezar e Amar

Nápoles: Comer, Rezar e Amar

Sempre tivemos um fascínio por conhecer Nápoles, primeiro por ser a “Terra da Máfia” (culpa do excesso de filmes americanos com este tema). Pensou em máfia e lá vem a figura de Dom Corleone na cabeça, papel inesquecível de Marlon Brando em parceria com Robert de Niro. Não podemos deixar de citar que a história se passa na Sicília, mas de qualquer forma a cidade de Nápoles também tem suas famílias mafiosas nem tão famosas. O segundo fascínio seria a oportunidade de conhecer a verdadeira pizza italiana. O terceiro fascínio seria a oportunidade de ver de perto o Vesúvio (um vulcão ainda ativo). O quarto fascínio seria conhecer as cidades históricas de Pompeia e Herculano. O quinto fascínio era conhecer a parte de baixo da “bota” italiana (Nápoles fica localizada na parte sul do país, que parece uma bota) e blá blá blá. Eram tantos os “fascínios” que o negócio era pegar o avião em East Midlands (aeroporto ao lado de Nottingham) e viajar. Após 2 horas e meia de voo desembarcamos em junho de 2018 na cidade italiana. Seriam 5 noites e 6 dias de intenso turismo.

Bom começo, pois tomamos este café no aeroporto de East Midlands.

O voo foi tranquilo, mas com muita gente, imaginei que os ingleses, assim como nós, adoravam uma promoção de companhia aérea, pois pagamos 58 pounds cada um, ida e volta, já incluídas algumas taxas de bagagem prioritária.
Dizem que a Itália é primeiro mundo, e não sei exatamente como se calcula tal parâmetro, se é a economia, a segurança ou a educação. Mas, com certeza, o quesito educação (em termos de grosseria) está longe dos italianos. O primeiro susto que levamos foi do taxista (a gente já sabe, que a maioria dos taxistas em aeroportos localizados em pontos externos) “esfaqueiam” os clientes nas tarifas. Chegamos quase 10 horas da noite e não vimos guichês de táxi dentro do aeroporto. Pegamos um cara mal educado, com um táxi velho e sujo, fornecemos o endereço e logo que o taxista deu partida no carro sem ligar o taxímetro, cobrou 22 euros para andar em torno de 6 km e ainda disse que estava incluída a taxa de corrida do aeroporto e a taxa de mala extra, o negócio dele era fazer “bolo”. Aí veio na cabeça a famosa frase preconceituosa: “L’italiano è tutti bonna gente, ma tutti ladri”, “Italiano é tudo boa gente, mas são todos ladrões”. Enfim, em tempos de tantos aplicativos como Uber, dentre outros, é “burrice” pegar táxi de aeroporto, mas à noite a gente sempre fica com sono ou com fome ou debilitado…

Virou uma dor de cabeça em muitos países.

Ficamos hospedados em uma acomodação super boa, através do aplicativo Booking, em um apartamento completo e inteiro de nome Ortobello Road, na via Antonio de Curtis 11bis. Ficamos no centro histórico de Nápoles e ao chegar à noite, descemos naquelas ruelas pequenas, onde mal cabe um carro ou uma lambreta italiana. O proprietário nos entregou a chave do apartamento (um inglês bem italianado) e nos ensinou a abrir a porta de mil novecentos e antigamente. O apartamento era ótimo, bem antigo, mas todo reformado por dentro, com móveis e utensílios domésticos de primeira. A barriga estava “roncando” e descemos rua abaixo atrás de uma Pizzeria. No meio de ruas mal iluminadas e montanhas de lixos espalhados nas esquinas, além de barzinhos de “quinta categoria”, fomos indo atrás do endereço que o dono do alojamento havia nos indicado. Acabamos em uma Pizzeria chamada Preconto Tavolo e comemos a primeira pizza napolitana de verdade. Deu para perceber, que diferentemente do Brasil, a pizza é simples, tem a massa crocante (feita em forno à lenha) com borda, mas sem recheio, acompanhada de um molho vermelho e um leve queijo derretido por cima. Pegamos uma Margherita e uma Capricciosa, o que diferenciava uma da outra era o recheio, a Margherita mais simples com molho, queijo e orégano, e a outra com o acréscimo de presunto e cogumelos, nada de óleo de oliva. Ali, colocar ketchup ou maionese em cima de uma pizza é “pecado”, uma “gafe”. Para acompanhar, uma garrafa de vinho branco italiano de ótima qualidade (Casa D’Ambra, Campania, Falanghina, safra 2017). Mas o rolo deu foi no final, quando o garçom trouxe a conta e cobrou 3,00 euros a mais por cabeça, devido ao “coperto”. Mas que “coperto” era este…

“Coperto” era somente uma mesa posta para o cliente e isto custava 3 euros por pessoa!

Em qualquer canto do mundo cobra-se este valor extra quando se pede uma entrada como um pão, azeitonas ou qualquer outra iguaria, mas neste caso ninguém pediu!!! Após, toda a “fiasqueira”, o garçom na frente dos demais clientes do restaurante falou em alto e bom som “e a mesa, e a cadeira, e a toalha, os talheres e o serviço”, isto é um “coperto”. Caímos na gargalhada, foi a “cara dura da noite”. No final pagamos a conta que deu em torno de 28 euros, afinal, temos a famosa frase que vem à nossa memória: “A tendência do primeiro dia é de a gente sempre se quebrar”.

O segundo dia foi fantástico, era domingo. Acordamos, abrimos a janela do nosso apartamento e veio aquele cheiro de molho de tomate, daquelas macarronadas italianas da Nona, e meu marido gritou: “Amor, vem aqui na janela e sente que tu realmente estás na Itália”. Vi pela janela que os fundos do nosso apartamento tinham como cenário um quintal e uma horta, cheio de vasos de temperos (alecrim, cebolinha, louro, manjerona, orégano e por aí vai), e de um cantinho qualquer, de uma janela anônima, ou talvez de alguma porta vinha o cheiro delicioso da macarronada do domingo.

Era um quintal recheado de temperos especiais para as macarronadas.

Pronto, nossos olhos se encheram de lágrimas, lembramos das nossas famílias, pois somos bisnetos de imigrantes que foram para o Brasil lá pelo fim do século XIX. Nosso coração bateu mais forte, éramos italianos de sangue.

Como era a primeira manhã após a chegada, fomos tomar um café no barzinho da esquina, na movimentada Via Foria. Cafeteria simples, onde pedimos um capuccino acompanhado de um pastel doce italiano. Caímos para trás, uma delícia, custou 5 euros por pessoa, simplesmente o melhor café dos últimos anos das nossas vidas.

Bem em frente da cafeteria tinha uma daquelas feirinhas de artesanato, tipo “brique e tralhas & cia”.

Bagunça boa, tudo por um euro na feira da Via Foria.

Tudo por um euro, mas não tinha muita coisa para comprar, de tanta quinquilharia antiga. O que acabamos comprando foi um conjunto de bolinhas de enfeites de natal decorado manualmente e uma coleção de livros de receitas italianas. Dali seguimos para o supermercado Carrefour Express, uma verdadeira “passarela gastronômica”, para dar uma abastecida no café da manhã do dia seguinte. Tinha queijos, presuntos, pães, verduras, legumes, frutas e vinhos de primeira. Parecia um shopping gastronômico, tamanha a variedade de comes e bebes. Se há uma coisa que italiano sabe fazer bem é comer e rezar. Já amar, acho que nem tanto.

Por falar em rezar, dois fatos interessantes estão presentes nas ruas históricas da cidade. Um deles é a bagunça generalizada nas ruelas históricas, são varais e mais varais de roupas penduradas nas janelas, dia e noite, dando a impressão de que a rua é a extensão do jardim de cada morador.

A rua é a continuação da casa quando se trata em secar as roupas.

Esta variação de lençóis, roupas íntimas, toalhas, etc., dão um colorido especial à cidade, e é um diferencial perante o mundo. O outro fato que chamou a atenção são as capelas urbanas, praticamente uma em cada esquina e com santos diferentes. A maioria tem flores de plástico, queimadas do sol, alguns santos são fechados com vidros e algumas famílias até colocam fotos de entes queridos. Repito, os italianos sabem comer e rezar como ninguém.

As capelinhas com santos, presentes no lado de fora de várias casas.

Dali, pegamos um ônibus na avenida principal, na parada da Via Foria Cesare Rossarolli (ônibus 147) e descemos cinco paradas depois no Museu de Arqueologia de Nápoles. Não posso deixar de contar o seguinte episódio, pois não tínhamos ticket e nem um lugar sequer aberto para comprar. Ao perguntarmos para um senhor que estava na parada quanto tempo iria demorar a chegar o próximo ônibus ele respondeu: “Estou aqui a mais de 20 minutos e nada”. Aí, aproveitando o diálogo perguntei: “Por acaso, posso pagar o ticket dentro do ônibus…” Ele respondeu: “Olha, nem todos recebem, mas nunca vi um fiscal conferir o ticket aos domingos…” Louca de medo (sei que a multa para quem não paga passagem em transporte urbano na Itália é grande…) eu disse: “Não vou entrar não…” Ele respondeu: “Faz 20 anos que moro aqui e nunca deu nada…” Hahahaha… Logo passou o ônibus e lá fomos nós, loucos de medo, andar 5 paradas de forma totalmente “ilegal”, pois o motorista não cobrava em dinheiro. Enfim, ninguém perguntou nada e descemos… Depois, logo pensei, o que difere uma nação da outra, é justamente o respeito pelas regras e leis do país. Lembrei-me da Inglaterra, onde “quase ninguém” teria coragem de entrar em um transporte público sem pagar com antecedência ou na hora. Entramos no Museu de Arqueologia de Nápoles, que é sensacional! Tivemos muita sorte porque era o primeiro domingo do mês (ocasião em que o museu é gratuito para todos). Normalmente, ele custa 12 euros por pessoa. Começamos a visitar a parte térrea, onde estão localizadas as esculturas dos maiores imperadores da Itália (ficamos fascinados pelo Júlio César, o maior estrategista de guerra do Império Romano).

Escultura em mármore de Júlio César, o maior estrategista de guerra do Império Romano.

Nosso objetivo era conhecer a parte das cidades destruídas pelo Vulcão Vesúvio, Pompeia e Herculano. O Museu de Arqueologia de Nápoles oferece uma das melhores coleções de artefatos greco-romanos do mundo. Nosso interesse maior era conhecer os tesouros das cidades destruídas pelos Vesúvio, porque sabíamos que as duas cidades só continham ruínas e paredes de algumas edificações. No térreo, começamos visitando a coleção Farnese e ficamos deslumbrados com as esculturas gregas e romanas, tais como o Toro Farnese e um Ercole (Hércules). Esculpido no início do século III DC e anotado nos escritos de Plínio, o Velho, o Toro Farnese, provavelmente uma cópia romana de um original grego, retrata a morte humilhante de Dirce, Rainha de Tebas. Esculpida em um único bloco colossal de mármore, a escultura foi descoberta em 1545 nas Termas de Caracalla, em Roma, e restaurada por Michelangelo, antes de ser despachada para Nápoles em 1788. Ficamos impressionados com o Atlante Farnese, uma estátua de Atlas carregando um globo nos ombros. Eram tantas esculturas que teríamos de ter um tempo bem maior para ver tudo, mesmo assim, ficamos umas duas horas no Museu.

Múmias intactas do Império Antigo do Egito.

Muito interessante é a parte do Império Antigo do Egito (2.700-2200 AC), que conta a Dinastia Ptolemaica. Ficamos impressionados com as múmias e seus sarcófagos muito bem conservados.

No mezanino do Museu está a coleção de mosaicos, a maioria de Pompeia. Das séries tiradas da “Casa del Fauno”, tem La battaglia de Alessandro contro Dario (A Batalha de Alexandre contra Dario), dentre outras. A mais conhecida representação de Alexandre, o Grande, o mosaico de 20 metros quadrados foi provavelmente feito por artesãos alexandrinos que trabalhavam na Itália por volta do final do século II AC.
Além dos mosaicos, encontramos “Gabinetto Segreto” (Câmara Secreta) que contém uma coleção pequena de erotismo antigo, que foi muito estudada pelos historiadores. A escultura mais famosa foi a de Pan (em posição erótica), uma pequena e surpreendentemente sofisticada estátua de cabra tirada da “Villa dei Papiri”, em Herculano

O “Gabinetto Segreto” contém uma pequena coleção do erotismo antigo.

Você também encontrará uma série de nove pinturas retratando posições eróticas. Neste lugar fica-se um tanto desconcertado, não tem como deixar de rir, porque apesar de passar a ideia de “idiota em artes”, muita gente não se aguenta e cai na gargalhada. Visitamos a parte do “falo” (a figura do órgão sexual masculino) que, segundo os escritos, nas duas cidades (Herculano e Pompeia) era muito comum encontrar os mesmos nas portas das residências, principalmente no comércio, pois o “dito cujo” em posição ereta trazia muita sorte e prosperidade e quebrava a magia dos maus olhados.

A fome bateu forte e, por indicação de funcionários do Museu, acabamos no Restaurante Aiello 30 (Via Santa Maria di Costantinopolis 2). Foi engraçado, porque logo no início já perguntamos o valor do “coperto” e nos foi dito 1,50 euros por pessoa (ufa, menos do que no restaurante do dia anterior!!). Foi ali que “caiu a ficha” de que realmente os italianos cobram esta taxa para qualquer cliente que senta nas mesas dos restaurantes. Sentamos achando que iríamos “matar a fome” literalmente no tal restaurante, pois somos sabedores, de que a comida é farta na Itália, mas nos serviram um “pratinho de meia tigela”.

Estávamos acostumados com a informalidade dos italianos, mas não com a pouca quantidade de comida.

Saímos com fome, apesar de os pratos estarem muito saborosos. Já era tarde, todos os garçons e o cozinheiro resolveram tomar cerveja na frente do restaurante, enquanto um deles preparava “aquela” refeição maravilhosa para os funcionários. Enfim, temos que respeitar os hábitos e costumes de cada país. Mas fica a dica, o melhor é se informar previamente no restaurante sobre o preço do “coperto”. Com relação à cerveja, os italianos em Nápoles costumam oferecer dois tipos: a Nastro Azzurro (servida neste restaurante) ou a Peroni, ambas em garrafinhas.

Pegamos o metrô da linha 1 e descemos na Estação de Metrô Toledo, considerada uma das mais belas do mundo. Você entra na escada rolante e não acredita no que está vendo, olhando para cima aparece uma “via láctea toda em azul”. As paredes da estação de Toledo foram inspiradas no reflexo da luz na água, o que proporciona um aspecto de mar.

Estação de Metrô Toledo, considerada das mais bonitas do mundo.

Seguimos em frente, passamos pela Via Toledo (a rua comercial da cidade), comemos um sorvete de Nutella (o melhor do mundo) e fomos em direção à Piazza del Plebiscito. A praça é rodeada por quatro edifícios: o Palácio Real, a Basílica de São Francisco de Paola e os dois edifícios simétricos que são a Prefeitura e o Palácio de Salerno.

Piazza del Plebiscito, parecida com a Praça do Vaticano.

Como era um domingo, a praça estava vazia, andamos por lá e valeu a pena a caminhada. A praça é uma réplica da de São Pedro em Roma.
Entramos no Palácio Real e naquele dia não estavam cobrando ingresso, ficamos pouco tempo, mas deu para ver a imponência do lugar. Dali fomos em direção ao Lungomare, a avenida litorânea mais famosa de Nápoles.

A primeira visão do Vulcão Vesúvio a “gente nunca esquece”.

A nossa caminhada em direção a Bahia/Golfo de Nápoles nos emocionou muito, pois, pela primeira vez, vimos o Vulcão Vesúvio ao longe. São 3 km de extensão de orla na cidade. Partimos do final da Avenida Toledo até o Castelo Dell´Ovo. Dizem que a Avenida Lungomare é a rua litorânea mais bonita do mundo, mas como tudo que vem dos italianos é exagerado, vamos dar um crédito a eles. Caminhamos, conversamos, tiramos fotos e a via estava completamente lotada de moradores, já que era um final de domingo.

Avenida Lungomare é a rua litorânea mais bonita do mundo.

Paramos na entrada do Castelo Dell´Ovo, o mais antigo da cidade, que fica localizado em uma espécie de ilhota, onde se chega por uma ponte, sendo que de um lado tem uma marina com iates milionários e restaurantes turísticos e, de outro, o Castelo.

Castelo Dell´Ovo e sua lenda do ovo escondido.

Dizem, segundo a lenda, que dentro do Castelo tem um ovo escondido, e, conforme o poeta italiano Virgílio, caso o ovo se quebre, quebrará também a fortaleza do castelo e uma série de catástrofes poderão acontecer na cidade. Rezamos, naquele dia, para o ovo ficar quieto no seu lugar.
A noite estava se aproximando, aliás, no verão escurece tarde na Europa e voltamos cansados. Fizemos o trajeto de volta e chegamos em casa com os pés inchados.

Herculano e Pompeia

Herculano

Já era o nosso terceiro dia, e chegou a vez de conhecer Herculano e Pompeia. Caminhamos até a estação de metrô chamada Museu (estação do Centro Histórico), local onde estávamos hospedados. Pela manhã, quando se sai pelas ruelas do centro histórico, já tem que desviar dos lençóis que “teimam” em ficar secando à noite. Mas, falando em estação de metrô, a nossa era muito grande, e se caminhava uns 20 minutos por uma escada rolante térrea subterrânea até chegar a uma escadaria gigante e pegar o metrô Linha 1 em direção à Praça Garibaldi. Da Praça Garibaldi fomos até a estação de trem Circumvesuviana para Herculano. Nossa intenção era começar pela cidade de Pompeia, mas o vendedor do guichê foi tão ríspido que nos contentamos em ir até Herculano e, de lá, até Pompeia (pagamos 3,90 euros o trecho de ida por pessoa, mas dava direito de descer em Herculano e, depois, ir até Pompeia). De posse do ticket do trem, descemos para o subterrâneo da estação.

A estação de trem subterrânea Circumvesuviana parece uma “zoeira”.

O choque ao ver a estação que vai para as duas cidades turísticas da Itália foi enorme, era uma esculhambação só, o ticket marcava um horário e no velho painel da estação era outro. O trem que faz Herculano e Pompeia é de doer, velho, sujo e cheio de gente, moradores e turistas. A estação subterrânea Circumvesuviana parece uma “zoeira”, mistura de rodoviária do interior do Brasil com estação de trem de qualquer cidade sul-americana. Um caos total, desorganização e sem identificação para coisa alguma. Logo de cara entramos em um trem errado, mas as pessoas avisaram que não era Herculano ou Pompeia. Gritavam feito loucos: “Non è Pompeo, esci di qui’. E, por uma “obra divina”, conseguimos entrar no trem certo e fomos até Herculano. O trecho durou uns 25 minutos (12 km de Nápoles), muita gente, um aperto, mas fomos adiante. Descemos em Herculano e, bem em frente à estação de trem, já tem vans que levavam turistas até o Vesúvio. Naquele momento nossa meta era Herculano, seguimos pela rua em frente à estação, mais ou menos uns 850 metros, e após passar por inúmeras Pizzerias e cantinas de massa, chegamos no Sítio Arqueológico de Herculano.

Primeira entrada do Sítio Arqueológico de Herculano.

O acesso ao lugar estava super tranquilo, tem duas entradas e, na primeira, uma espécie de arco, você já tem ideia do que é o sítio de Herculano. Menos conhecida e melhor preservada do que Pompeia, a antiga cidade de Herculano também foi atingida pelo Vesúvio durante a erupção do ano 79 DC. A cidade romana, com seus banhos públicos, fontes de mármore, vilas e casas, mostra um pouco da vida há quase dois mil anos atrás. Segundo os historiadores, a cidade de Herculano foi “engolida” pela fuligem do Vesúvio e não pelas lavas. O acúmulo de fuligem é o que ocasionou o soterramento e a morte dos herculanos.

Logo no início do Sítio já se pode tirar fotos muito boas e se ter uma visão panorâmica.

A cidade ficou soterrada debaixo de uma camada espessa de cinzas vulcânicas, de aproximadamente 6 metros de altura, que endureceu e formou um muro quase impenetrável, uma verdadeira cápsula do tempo. As primeiras escavações foram feitas somente no século XVIII, quando a velha cidade já tinha sido parcialmente recoberta por outra cidade mais moderna de Herculano. Tiramos algumas fotos da área externa e decidimos voltar para explorar Pompeia, por ser um sítio mais famoso que Herculano.
Não posso deixar de citar que a entrada para Herculano custa 11 euros por pessoa e você passa por um Centro de Interpretação do Sítio, um lugar moderníssimo, com apoio ao turista e, também, algumas fotos e exposições sobre a escavação de Herculano. Em Herculano tem outras atrações para se visitar, uma delas é Museu Arqueológico Virtual de Herculano, onde é possível assistir ao filme em 3D que reproduz a erupção do Vesúvio de 79 DC, e viver a experiência que mudou a história e o perfil de Herculano e Pompeia. Foi feito com os geólogos do Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia. Não tivemos tempo para ver isto, mas achamos bem interessante o convite. Com relação ao lanche comemos, de novo, pizza e cerveja, já estávamos ficando “inchados” de tanto carboidrato.

Pompeia

Seguimos o trajeto de trem até Herculano (já estava pago) e 10 minutos depois estávamos chegando a Pompeia (o mesmo trem caótico). O Sítio Arqueológico de Pompeia fica ao lado da estação de trem. Ao lado de barracas que vendem, de forma desorganizada, artesanato, limonadas, limões e pizzas, se entra no Centro de Informações e Bilheteria de Pompeia. Na primeira impressão, nos pareceu que o sítio era mais organizado, e pagamos 15 euros cada para entrar. Recebemos um mapa e um folheto em português com detalhes dos pontos de visitação e lá fomos nós explorar Pompeia, só não sabíamos que seria tão grande.

São 45 hectares de escavações e se pode levar o dia inteiro visitando os lugares.

O Sítio de Pompeia tem 66 hectares, mas somente 45 hectares foram escavados. A cidade é subdividida em regiões e cada uma delas tem as suas atrações. E mesmo com o mapa, logo no início você se perde, porque as ruelas são de pedras e longas. Pompeia teve início no século VI AC, quando pequenas comunidades começaram o processo de urbanização naquela região. Era uma cidade próspera, considerada uma grande metrópole para a época porque tinha termas, anfiteatros, mansões luxuosas, produção de vinhos finos, setor público organizado e assim por diante.
No dia 24 de agosto do ano 79 DC, o Vesúvio entrou em erupção e grossas camadas de cinzas e detritos de fragmentos de rochas cobriram a cidade de Pompeia em cerca de seis metros de altura, levando poeira e escurecendo a cidade e outros municípios vizinhos por 3 dias. Cinza e pedra pomes caíram sem cessar, atingindo uma temperatura de 400 graus e não deixaram nenhum sobrevivente (tinha em torno de 20.000 mil habitantes). Após essa tragédia, a região de Pompeia acabou sendo esquecida, ficando assim oculta por mais de um milênio e meio, vindo a ser redescoberta cerca de 1.600 anos depois por um agricultor que, trabalhando nas proximidades por volta do século XVIII, conseguiu localizar o muro da cidade, após cavar um buraco em suas terras. Depois da descoberta, a região passou a ser escavada por inúmeros arqueólogos nos dois séculos que se sucederam. As escavações resultaram na descoberta de casas, prédios públicos, museus, aquedutos, teatros, lojas e termas, dentre inúmeras outras construções.

Para muitos o auge da visitação é ver os esqueletos petrificados na posição em que foram encontrados.

Mas o que mais chama atenção até hoje, para aqueles que visitam o sítio são os esqueletos petrificados em posição de proteção (muitos em posição fetal) que foram encontrados nas escavações. Existem várias atrações para se ver em Pompeia, mas as mais importantes são essas: A Cidade Comercial (Região I), Horta dos Fugitivos (Região I), Fórum, Anfiteatro, Ginásio, Necrópole (Região 2), Casa dos Gladiadores (Região 3). Ao todo são 9 regiões e cada uma dela tem os seus atrativos. Em muitos locais é possível captar boas fotos com o Vesúvio ao fundo como cenário. Corremos muito até achar o Jardim dos Aflitos (Orto Dei Fuggiaschi), uma espécie de local envidraçado onde se encontram alguns corpos petrificados. Mas em vários outros locais, foi possível encontrá-los, a maioria recomposta com argamassa, permanecendo alguns ossos originais.

O bom desta visita é que deu para perceber que o governo está investindo no sítio, Desde 1997 Pompeia é Patrimônio da Humanidade, e, atualmente, muitos dos locais estavam fechados para reformas e deu para perceber que estão em plena revitalização. Nós, literalmente, nos perdemos dentro do sítio, até porque não tem placa de sinalização de saída. Próximo da saída tem a tradicional lojinha de venda de souvenir e, também, um audiovisual sobre os acontecimentos históricos. Valeu a visita, sugerimos que levem água e um lanchinho, pois vimos somente uma lanchonete dentro do sítio, que fecha às 17 horas. Para os historiadores, que curtem a história da humanidade, a visita é emocionante, mesmo até para nós que não conhecemos tanto assim a história romana. A gente sai de lá com um misto de alegria e tristeza, ao ver uma toda uma civilização soterrada. Tanto o sítio de Herculano como o de Pompeia abrem às 8h30min e fecham às 18h30min e é perfeitamente viável conhecer os dois no mesmo dia.

Pegamos o trem da “bagunça” no retorno (mais 3,90 euros cada), mas este estava um pouco mais tranquilo. Voltamos com os pés inchados de novo e com muita fome. Seguimos direto para L’Antica Pizzeria da Michele (Via Cesare Sersale ⅓), a tal Pizzeria famosa que foi fundada em 1860 e onde teve cenas do filme da Julia Roberts, Comer, Rezar e Amar.

Andar pelas ruas do centro da cidade dá um nó no Google Maps.

Chegamos à Praça Garibaldi e mesmo com o celular ligado no Google Maps nos perdemos, porque o centro de Nápoles é uma “bagunça boa”, prédios antigos, roupas penduradas nas sacadas, ruelas mal iluminadas e tudo o mais desse jeito. Depois de estarmos muito perdidos (o aplicativo do celular endoidou), e ter perguntado para mil pessoas, um italiano “boa gente”, nos deu uma carona até a Pizzeria da Michele. No curto trajeto, só rolou um assunto “futebol brasileiro” (ufa, algo de bom ainda temos!). O bendito amigo italiano nos avisou: “Se, por acaso, a Pizzeria da Michele estiver cheia (ele sabia da fama), vá até aquela Pizzeria (apontou para uma pequena portinha) e lá vocês serão felizes com a melhor pizza da cidade!!”

Pizzeria da Michele, nossa ficha era a número 75.

Na hora não entendemos o recado, mas depois “caiu a ficha”. Ao chegar à Pizzeria da Michele era um caos de tanta gente, tivemos que pegar um ticket de espera, nosso número era 75, a rua repleta de gente e o cheiro de pizza invadindo a calçada. Em volta da Michele tinha dezenas de outras Pizzerias, mas estavam vazias (fama é fama). Foi aí que nos lembramos do recado do nosso amigo italiano da carona que havia a opção da “portinha da pizza”, que se chamava Pizzeria De’Figliole. Se Nápoles é a capital da pizza, Pizzeria De’Figliole é o reino da pizza frita por excelência. É um lugar simples, mas histórico e de grande tradição napolitana, o dono é o que atende às mesas, oferece o cardápio e logo de cara diz que a pizza é boa, mas tem poucos sabores e que a mesma é frita. Pedimos uma com recheio tradicional de queijo e tomate e a outra vegetariana. Pagamos 15 euros por duas pizzas e duas cervejas. Valeu muito a pena!

Pizzeria De’Figliole, a pizza frita mais famosa de Nápoles.

A qualidade absoluta dos ingredientes, dimensões bíblicas (quase tanto quanto uma bola de rugby) e fritura de qualidade superior, macia e perfumada (sem ser oleosa) mas ao mesmo tempo muito leve fazem da De’Figliole uma experiência gastronômica de primeira. Ah, descobrimos como se come a pizza frita, não é com garfo e faca, mas se abre com as mãos e se come os recheios, aos pouquinhos juntando a massa com o recheio.
Para dar uma baixada na pizza frita e como estávamos no Centro Histórico resolvemos atravessar as ruelas e ir a pé até o nosso hotel localizado na Via Foria. Foi uma atração à parte andar no meio de ruelas desorganizadas, encontrando algumas prostitutas perdidas e jovens boêmios cantando a vida, mas não nos sentimos ameaçados ou inseguros em momento algum.

As ruelas do centro histórico e suas histórias de vida.

Parávamos e pedíamos dicas para chegar à Via Foria. Era uma noite quente e ao passar pelas ruelas antigas se espiava pelas janelas o modo de vida das famílias. Não vimos famílias completas, no máximo algumas senhoras vendo TV e, com raras exceções, uma criança ou outra por perto. Observamos que as mulheres mais jovens estavam “grudadas” em seus celulares. Até na velha Itália, das ruelas do centro histórico, a modernidade havia chegado. Chegamos são e salvos no nosso apartamento.

O Vesúvio

Se formos conceituar o que é um vulcão, seria mais ou menos assim: são buracos que geram manifestações de fogo contido nas profundezas da Terra. Essas formações têm grandes aberturas na superfície, onde rochas fundidas com fogo emitem gases do interior do planeta (Fonte: Revista National Geografic).

A vista da cratera do Vesúvio é impressionante. Imperdível!

Uma grande erupção pode ser perigosa para as pessoas que vivem perto de um vulcão. Podem ser liberados fluxos de lava, que chegam a 1.250 graus Celsius ou mais, queimando tudo em seu caminho. Pedras de lava endurecidas podem chover nas redondezas. A lama flui, derretendo tudo que existe por perto, acabando com as montanhas, vales e enterrando cidades. Cinzas e gases tóxicos podem causar danos aos pulmões e outros problemas, principalmente para bebês e idosos. Os cientistas estimam que mais de 260 mil pessoas morreram nos últimos 300 anos devido a erupções vulcânicas e suas consequências. Cerca de 1.900 vulcões na Terra são considerados ativos, o que significa que eles mostram algum nível de atividade e provavelmente explodirão novamente. Muitos outros vulcões estão dormentes, não mostrando sinais atuais de explosão, mas possivelmente se tornarão ativos em algum momento no futuro. Outros são considerados extintos, mas há uma teoria de que nenhum efetivamente pode ser considerado totalmente extinto.

Vista de Nápoles lá de cima do Vesúvio.

O Vesúvio entrou em erupção muitas vezes, e a mais famosa foi em 24 de agosto de 79 DC, ocasião em que destruiu Herculano e Pompeia. Desde 79 DC, o vulcão também entrou em erupção repetidamente, em 172, 203, 222, possivelmente em 303, 379, 472, 512, 536, 685, 787, cerca de 860, por volta de 900, 968, 991, 999, 1006, 1037, 1049, por volta de 1073, 1139, 1150, e pode ter havido erupções em 1270, 1347 e 1500. O vulcão entrou em erupção novamente em 1631, seis vezes no século XVII (incluindo 1779 e 1794), oito vezes no século XVIII (notavelmente em 1872), e em 1906, 1929 e 1944. Não houve erupções desde 1944, e nenhuma das erupções após 79 DC foi tão grande ou destrutiva quanto a de Pompeia.

Milhares de turistas sobem até o Vesúvio, não tem idade para ver tamanho atrativo.

Hoje, o Vesúvio é considerado um dos vulcões mais perigosos do mundo por causa da população de 3.000.000 de pessoas que vivem nas proximidades, tornando-se a região vulcânica mais densamente povoada do mundo, bem como sua tendência a erupções violentas e explosivas. O Vesúvio é todo monitorado, por equipamentos como sensores e sismógrafos e isto é plenamente visível ao se chegar próximo do mesmo. Existe um plano de emergência com 20 dias de antecedência a uma erupção que prevê uma evacuação de 600.000 pessoas, quase a totalidade das que vivem na área de entorno mais próxima ao vulcão. Toda a evacuação será feita por trens, balsas, carros e ônibus e poderá levar cerca de sete dias, a maioria irá ficar na própria Itália.

O vulcão é todo monitorado por equipamentos e tem um plano de emergência.

Munidos de muita vontade de conhecer o Vesúvio e meio aterrorizados pelo medo (vai que é hoje que o Vesúvio acorda!!), pegamos um metrô e fomos ate a estação central. Fomos tirar informações no centro turístico da estação. Gentilmente, a moça do local nos indicou uma empresa que fazia o transporte direto da cidade de Nápoles até o Vesúvio. A empresa se chamava Tramvia Napoli e cobrou 13 euros por pessoa (ida e volta). Indicou-nos uma parada de rua, em frente a um hotel chamado D’Anna. A parada era ao lado de uma parada de ônibus normal (o que causou certo receio), mas depois que se passa uns dias em Nápoles, a gente começa a aceitar a bagunça como algo normal. Por exemplo, o ônibus era para sair às 13h15min e acabou saindo às 13h45min. Entramos no ônibus e lá fomos nós, mas logo em seguida, 20 minutos depois, tivemos que trocar de veículo, ou seja, passamos para uma van pequena, porque o ônibus havia quebrado… hahaha. Curioso é que viajaram conosco três argentinas, que deixaram dois espanhóis loucos, pois diziam que gostavam de deixar muitos noivos por onde passavam em suas viagens. A viagem foi muito divertida.
Em torno de 45 minutos depois chegamos ao “pé” do Vesúvio. A viagem é uma subida leve e suportável, apesar das curvas, e se passa no meio de uma floresta negra, com várias árvores queimadas e retorcidas (um tanto sinistro).

No caminho da van, árvores meio queimadas, um tanto sinistras!!

A van nos deixou, no estacionamento do atrativo. Para se entrar no parque do Vesúvio paga-se mais 10 euros. Muitos turistas chegaram conosco, outros já estavam descendo, gente do mundo inteiro e de várias idades (dos 8 até os 80).

A área ao redor do Vesúvio foi oficialmente declarada Parque Nacional em 1995. A cúpula do Vesúvio é aberta aos visitantes e a subida a pé leva uns 30 minutos até o topo, mas nada que não se consiga fazer de forma devagar e tranquila. A vista de Nápoles, lá de cima, é sensacional. Durante o trajeto tem bancos de madeira para aqueles que necessitam dar uma descansada ou tirar aquela foto. Chegamos ao topo, a paisagem é impressionante, se caminha ao lado do vulcão e isto deixa a gente boquiaberto. Tem algumas pequenas lanchonetes que vendem lanches e souvenirs.

Insetos e flores diferentes pelo caminho.

Ficamos emocionados com a fauna (pequenos insetos) e flores que teimam em nascer naquela terra preta. Impressionante são os sinais de fumaça que saem da terra, parecem “chaminé de fogão a lenha”.

Simplesmente imperdível, diferente, inusitado… isto é o Vesúvio.

Ficamos por lá por quase 2 horas, impressionados com cada detalhe e com a vista panorâmica do local. A descida foi mais difícil porque a terra e as pedras da área de entorno são escorregadias. Tem que ter um equilíbrio e força nas pernas. Para variar, o nosso ônibus estava atrasado era para nos buscar às 17h30min e chegou às 18h para nos levar a Nápoles.

Nápoles e a pizza

Bem, era mais cedo que no dia anterior e resolvemos tentar novamente uma vaga na Pizzeria da Michele, e não é que deu sorte, pois em 20 minutos estávamos sentados e comendo a melhor e mais famosa pizza da cidade.

Foi quase uma loteria, só na segunda tentativa conseguimos vaga na Pizzeria da Michele.

Lembrando que a pizza nasceu em Nápoles conhecida como “focaccia”, uma espécie de pão liso. Aos poucos foram adicionando o molho de tomate, o queijo e o manjericão. Era conhecida como a comida dos mais pobres, mas isto mudou após a Segunda Guerra Mundial, quando as tropas aliadas estacionadas na Itália passaram a desfrutar de pizza junto com outras comidas italianas.

Conta a história que em Nápoles, em 1889, para homenagear a rainha consorte da Itália, Margherita de Sabóia, um fabricante de pizza criou a “Pizza Margherita”, uma pizza guarnecida com tomates, mussarela e manjericão, simbolizando as cores da bandeira da Itália. Na Pizzeria da Michele, eles consideram que existem apenas duas verdadeiras pizzas – a Marinara e a Margherita – e é tudo o que é servido por lá.

São dois sabores, a Marinara e a Margherita. E não precisa mais…

A Marinara é a pizza mais antiga das duas e tem uma cobertura de tomate, orégano, alho e azeite extra-virgem de oliva e a Margherita é coberta com quantidades modestas de molho de tomate, queijo mussarela e manjericão fresco. Não tem jeito, você senta, o garçom só pergunta qual das duas você prefere e vem uma para cada um (nada de pedir uma grande para dividir com todos, como no Brasil). Cada pizza tem um tamanho de um prato bem servido. Bebida à parte, cerveja, água ou refrigerante servido no copo plástico, tudo muito simples, mas de excelente qualidade.

Os preços eram muito econômicos e não cobraram “coperto”. Fica a dica, ser famoso não quer dizer “caro”.

Costa Amalfitana

Acordamos e o nosso destino era visitar a Costa Amalfitana, conhecida como um dos lugares mais bonitos do mundo. É considerada a faixa costeira mais pitoresca da Itália, uma paisagem de penhascos, aldeias em tons pastéis assentadas em encostas, estradas íngremes, jardins exuberantes e vistas amplas sobre águas azul-turquesa e montanhas cobertas de verde. É considerada pela UNESCO “como uma paisagem mediterrânica com valores paisagísticos culturais e naturais excepcionais” e foi destaque na lista do Patrimônio Mundial em 1997.

Tombada pela UNESCO como uma paisagem mediterrânica e a mais bonita do mundo.

Fomos de metrô até a Estação Garibaldi e ali compramos o ticket só de ida até a estação de trem Circumvesuviana. Pegamos o mesmo trem que faz as paradas estratégicas em Herculano e Pompeia, ou seja, cheio de turistas e moradores. Após quase uma hora de trem chegamos em Sorrento, a cidade mais próxima da Costa. Ao chegar à estação central de Sorrento, tem de pegar outro ônibus da linha Sit Bus. Tinha uma grande fila de turistas, devido ser alta temporada. Esperamos uns 15 minutos (pagamos o valor de 10 euros por pessoa) e lá fomos nós em direção a Positano, a praia mais famosa da Costa Amalfitana. Teria como ir de barco até Positano, partindo de Nápoles, mas nós queríamos passar pela tal estrada com curvas.

As curvas fechadas da bela estrada da costa Amalfitana.

A estrada ao longo da costa de Amalfi é famosa por suas curvas fechadas, as vistas sobre o mar e a parte estreita em alguns locais. A estrada serpenteia ao longo das falésias, e foi construída em um ângulo muito íngreme, então ziguezagueia para frente e para trás. A unidade da Costa Amalfitana é indiscutivelmente a mais bela e emocionante estrada de turismo do mundo. Ela se estende por 50 quilômetros entre a cidade de Sorrento e a vila de Amalfi, a comunidade que deu nome ao litoral. Tem apenas grades ocasionais para evitar que seu carro caia lomba abaixo em pedregulhos escarpados. O ônibus saiu lotadinho e todos com muito receio. Preferimos o lado que alcança a borda do penhasco. É uma viagem que precisa ser feita pelo menos uma vez na vida! A superfície da estrada é asfaltada. A costa é uma das mais fascinantes do mundo pela sua paisagem. O ônibus fez curvas fechadas ao longo de falésias acima do mar. No entanto, cada canto parece revelar uma visão ainda mais impressionante. São vistas de tirar o fôlego. A pitoresca Amalfi tem aparecido em vários filmes desde que as câmeras rodaram a 24 quadros por segundo, principalmente filmes como Under the Tuscan Sun ou o clássico de Humphrey Bogart de 1957, Beat the Devil, apresentando uma sensual Gina Lollobrigida. Paramos na Praia de Positano. Positano é um dos vilarejos mais conhecidos da Costa Amalfitana e caracterizada por ser a cidade das escadas, porque é impossível visitá-la sem subir e descer suas inúmeras escadarias. Definitivamente não é uma praia para preguiçosos.

As ruelas de Positano são cinematográficas.

As belezas que ela apresenta, com suas casas coloridas e esculpidas na pedra, o visual do mar, a vegetação costeira e as vistas panorâmicas perfeitas, haja pernas para chegar da parada do ônibus até o mar. Positano é uma cidade vertical, completamente perpendicular ao mar, e por isso é atravessada por uma rua principal, onde carros e transportes públicos podem passar, além de inúmeras “escadas”, o verdadeiro símbolo da cidade, que levam ao mar.

Para se chegar ao mar é necessário descer muitas escadarias.

Dentro da cidade você irá encontrar inúmeras lojas que vendem artesanato, bem como lembranças, souvenirs, sandálias artesanais e variados vestidos de linho. Caminhamos pelas escadarias e por labirintos, tirando fotos e realmente vale cada parada, o vilarejo é cinematográfico (tem um ônibus que circula pela praia levando aqueles que não têm coragem de descer as escadas até o mar). Fomos até a praia de Spiaggia Grande. Estávamos com fome e entramos em um dos restaurantes para ver o cardápio. Queríamos saborear os deliciosos pratos da Costa Amalfitana como espaguetes com amêijoa, acompanhados com os famosos sucos frescos de laranja vermelha e, claro, o típico limoncello.

A praia de Spiaggia Grande é a mais famosa de Positano.

Qual foi o nosso susto ao entrar no primeiro restaurante da praia, uma simples bruschetta (recheada com tomate e orégano) estava custando 13 euros. Um prato de mexilhões na faixa de 50 euros e assim por diante. Decidimos comer lanches, afinal, nem todos nasceram com dinheiro extra para “torrar” na Spiaggia Grande. Olhamos para o lado e tinha uma “galera” fazendo o mesmo, como toda a cidade turística, em alta estação, os valores são triplicados. Sentamos e ficamos apreciando o Mar Mediterrâneo, água verde clara em contraste com a areia preta da praia (será que era em função do Vesúvio!!), muitos turistas pegando um bronze. O que nos chamou atenção foi que a praia estava demarcada com cordões, separando área livre para banho, saída de barcos, praias particulares de hotéis e assim por diante. A praia de Spiaggia Grande é linda com suas lojinhas decoradas e pessoas com certo charme circulando por lá. Ficamos umas duas horas e resolvemos voltar para Sorrento, pegamos um ônibus circular para não ter de subir por todas as escadarias por onde havíamos descido (velho para caramba, que mal conseguia subir a estrada sinuosa até o alto da cidade).

O que nos salvou da fome foi o famoso Arancini (bolinho de risoto).

Ficamos na parada por um bom tempo e foi por lá que comemos um bolo de risoto com cerveja. O pior estava por vir, ninguém nos avisou que o tal ônibus Sit Bus saía completamente lotado de Positano para Sorrento. Foi um verdadeiro inferno para retornar, somente após uma hora conseguimos embarcar para Sorrento. Um de nós passou mal, com ânsia de vômito e o outro veio sentado na escada do ônibus. Ir na alta temporada para a Costa Amalfitana é pedir para passar por momentos nada agradáveis. Pegamos o trem de volta e, uma hora após, estávamos chegando em Nápoles novamente. Como a nossa a fome estava muito grande, acabamos jantando no Anonymous Trattoria Gourmet (Via Rua Catalana, 117), um típico restaurante napolitano onde a maioria dos clientes é morador da cidade. Foi difícil de achar, porque era localizado em uma daquelas ruelas mal iluminadas, mas valeu cada euro. Ficamos rindo, pois comemos bruschettas super recheadas por 1,50 euros cada (comparado com os 13 euros do restaurante em Positano), spaghetti ao alho e óleo, frutos do mar fritos, petiscos, bebemos vinho branco e uma sobremesa de limão com chocolate (divina).

Anonymous Trattoria Gourmet, um divino restaurante na cidade.

O lugar é pequeno, por isto tem que chegar cedo, está sempre cheio. Comemos em uma mesa próxima à calçada, e foi a melhor refeição que tivemos na cidade. Com vários tipos de comida, sobremesa, vinho da casa e “coperto”, saiu tudo por 36 euros para os dois. Os garçons foram atenciosos e rápidos.

Era nosso último dia em Nápoles, arrumamos tudo e deixamos nossas malas no setor de bagageiro da estação, pois o ônibus para o aeroporto sai bem em frente à estação central da Praça Garibaldi.
Era o dia de compras e fomos direto à Via Toledo, uma espécie de “Rua 25 de Março” de SP. Multidões de pessoas circulando a todo o momento. Observamos uma segurança muito armada nas ruas (polícia e exército), mas isso nos pareceumuito tranquilizador, uma vez que circulamos sem medo pela avenida. Algumas lojas interessantes com bons preços. Compramos sapato, relógio, cintos, óculos, postais e souvenirs. Não é uma rua agradável de transitar, havia muitas lojas de grifes, mesas “privadas” de restaurantes invadindo a rua, vendedores ambulantes de bugigangas, quiosques de pizzas e as deliciosas sorveterias. Vale conferir, mas com o “olho” aberto. Devido ao pouco tempo que restava entramos no Quartiere Spagnoll, um bairro antigo, bem próximo à via Toledo. Estar em Nápoles e não visitar o bairro espanhol é pecado. É considerado o coração da cidade

Quartiere Spagnoll um quarteirão histórico no centro de Nápoles.

O nascimento desse bairro está relacionado ao período em que os espanhóis governaram em Nápoles. Na verdade, ele nasceu com a intenção de encontrar alojamento para os muitos soldados presentes naquele momento na cidade e, a partir dali, o bairro espanhol de Nápoles se transformou em uma zona de prostituição, mas hoje é uma atração turística. Vale dar uma conferida.

A experiência em Nápoles foi, literalmente, “Comer, Rezar e Amar”, em todos os sentidos.

Não poderia encaminhar a conclusão do post sem dizer que adoramos Nápoles, não somente pela gastronomia, mas pelo jeito de viver do italiano autêntico.

Andar pelas ruas da cidade e ver a “italianada” gesticulando, as lambretas circulando pelas ruas e volta e meia encontrar duas pessoas conversando em cima delas, não se importando com o tempo, não tem preço. As buzinas enlouquecedoras de um trânsito caótico, e as ruelas históricas com seus lençóis pendurados nas janelas, denunciam o jeito de viver das famílias. Lembrou-nos muito da nossa família, vieram as recordações de infância, onde nossas mães faziam polenta e cortavam com linha de costurar porque era um pecado cortar com a faca. Vieram as orações, pedindo a Deus por um milagre quase impossível onde as nonas diziam: “Vai filho, tudo vai dar certo eu vou pedir a Deus” e dava mesmo. Descobrimos que os italianos não são românticos, mas têm um jeito especial de tratar suas mulheres, que nem outro povo do mundo tem. Experienciar Nápoles, literalmente, foi Comer, Rezar e Amar”, em todos os sentidos.

Pagamos 6 euros cada, pegamos o ônibus, e 25 minutos após estávamos no aeroporto.

Dicas de Nápoles

– Tem um bondinho que vai da Via Toledo ao Vomero, ele desce e sobe pela cidade e custa 1,50 euros, uma espécie de funicular.

– Caso esteja com fome e queira fazer um lanche no hotel para levar para a viagem vá até o supermercado Carrefour Express, tem vários espalhados pela cidade e os preços e a qualidade dos produtos são ótimos.

– O aeroporto é perto do centro, somente 6 km. Podes ir de ônibus Alinus que custa 6 euros por pessoa. Sai de meia em meia hora.

– O esquema do transporte público é bem desorganizado na cidade, compramos tickets giornaliero integrados (ônibus e metrô) no jornaleiro em frente à rua Via Foria e custava 3,50 o dia por pessoa. Nas estações de metrô também é possível comprar o ticket, mas não funcionam 24 horas. Fique atento!

– Não vale a pena ir até a Costa Amalfitana em um dia, é outra viagem. Vale curtir Nápoles com as suas igrejas com a Capela de Pio Monte, Duomo, Complexo Museale di Santa Chiara.

– Não deixar de fazer a Napole Sotteranea, uma série de galerias subterrâneas históricas. Tem tours guiados pela cidade.

Sites úteis

– Para saber dos preços dos trens – www.eavsrl.it

– Para saber sobre o transporte público da cidade – www.anm.it

– Para saber sobre o ônibus que sai de Sorrento para a Costa Amalfitana – www.sitasud.it

– Para saber como se movimentar pela cidade – www.vesuviana.it

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